20.6.09

(O meu) Caminho de Santiago II - Antes do caminho


Está a chegar a uma altura que tenho mesmo necessidade de escrever... não porque o tema reúna consenso em termos de interesse... mas para mim! Para fixar alguns momentos, para reviver outros... para que eu própria não me esqueça das razões que me levaram a tomar a decisão de fazer esta viagem.

ATÉ COMEÇAR O CAMINHO...

Quem me conhece bem sabe que era um sonho antigo fazer o caminho de Santiago... O interesse nasceu de várias leituras, e foi alimentado pelos relatos de primos e amigos mais velhos que realizaram o caminho.

Acontecimentos na minha vida nos últimos 4 ou 5 anos fizeram-me, na altura tomar o compromisso de o fazer; a atracção e o fascínio pela parte mística, espiritual e, inclusive, para além da parte religiosa, a parte histórica e de certa forma pagã, foram achas lançadas na fogueira onde forjei este projecto; o gosto, a necessidade e a busca da aventura factores determinantes; mudanças positivas acompanhadas de algumas desilusões e sofrimento quer a nível profissional, quer pessoal, desde o início deste ano, determinaram 2009 como o ano do "meu caminho".

Ir sozinha?... fez parte desse processo de decisão: (segundo alguns o verdadeiro início do meu caminho...) chegar à conclusão que estou a chegar a uma fase da vida que não posso deixar de fazer aquilo que me sinto impelida a fazer, não posso deixar de realizar alguns sonhos, por muitos disparatados que ao principio pareçam, por não ter companhia, companhias ou "a" companhia...

A PROCURA DE UM CONTEXTO...

Ao longo dos últimos anos, deve haver pouca coisa na Internet, em português, inglês ou espanhol que eu não tenha lido sobre o caminho.

Santiago foi, segundo a lenda, o apóstolo de Jesus Cristo que terá procedido à evangelização da Península Ibérica, com especial relevo no norte, na zona da Galiza. Quando se fala dos caminhos de Santiago fala-se, quer da rota que eventualmente os discípulos de Santiago terão feito para sepultar os restos mortais do apóstolo (segundo um costume da altura de que os apóstolos seriam sepultados na região onde em vida terão pregado), quer das rotas dos peregrinos que, desde o século IX, rumavam em peregrinação ao túmulo de São Tiago.

Há ainda uma história de um caminho no norte da península ibérica, que remonta a tempos ancestrais, e que se dirigia a Finisterra... celta, celtibero, romano... não sei! mas estaria associado a um qualquer culto pagão anterior ao Cristianismo. Li algures que a vieira (a concha) que identifica os peregrinos de Santiago será uma apropriação de um símbolo pagão... que quem percorresse o caminho até Finisterra, uma vez lá deveria "devolver" a concha ao mar, em sinal que aquilo que aprendera com o caminho, não o guardaria para si, mas partilharia com o mundo...

Seja pelo que for, o que posso confirmar, mesmo tendo percorrido apenas 112Km é que há por aqueles caminhos, qualquer coisa... uma qualquer energia; como se sentisse nas pedras, no chão e no pó a vibração dos milhões que pisaram antes de nós. E provavelmente, nalguns pontos terão mesmo pisado... conquanto nalguns pontos o caminho seja atravessado ou acompanhe caminhos asfaltados e estradas principais (não muitos felizmente) - contingências de uma peregrinação em pleno século XXI- em grande parte do percurso tem-se a sensação de se percorrer um caminho medieval. Pela Galiza encontrei inclusive vários trilhos com vestígios de estradas e pontes romanas...

Não há portanto um só caminho de Santiago...



... há tantos quantos os assinalados no mapa (Caminho Francês, Caminho do norte, Via da Prata, Caminho Português...)... e tantos quantas as pessoas que o decidem percorrer, qualquer que seja a motivação com que o façam (religiosa, espiritual, espiritual e não religiosa, pela aventura, pela parte histórica, pelo desafio, etc.)...

Conheci muita gente, oriundos dos mais diversos sítios... e as razões de fazer o caminho eram um tema que invariavelmente surgia nas conversas iniciais. Além das motivações mais abrangentes que atrás refiro (que aliás, todas elas resumem a minha motivação), conheci os que o faziam: para pagar promessas, para provar alguma coisa a alguém, para emagrecer porque o médico mandara caminhar (não estou a brincar), como uma forma de "emancipação" e de afirmação (após um divorcio, uma reforma antecipada); em agradecimento; por e simplesmente por turismo; enfim... conheci inclusive dois franceses que o estavam a fazer em sentido contrário, tendo começado em Finisterra!!

O que não conheci foi pessoa alguma que, independentemente das razões que a teriam colocado ali, não tivesse sido de alguma forma tocada pelo espírito, e pela energia brutal e avassaladora gerada, pura e simplesmente, pelo facto de um bando de desconhecidos, dia após dia, caminharem na mesma direcção...

Pensando melhor até conheci... mas esse episódio já faz parte dos meus registos a partir do dia em que cheguei a Sarria, para começar a caminhar... e será objecto do meu próximo post!

PS.: Aos meus queridos (três) leitores, deixo o aviso que nos próximos tempos estarei, mais "egoisticamente" que nunca, dedicada apenas ao relato e à apresentação das fotografias da minha viagem e do meu Caminho... por isso os temas do blogue vão ser um pouco limitados.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ois Dina!!!

Estava ansiosamente à espera deste post, portanto podes contar com mais um leitor que escutará tudo com muita atenção e interesse!
Isto porque sinto que chegou o momento de começar a preparar as coisas para ir a Santiago, curiosamente, também me sinto tocado pelo espírito a ir...

Beijo

Solange disse...

Olá, Dina
viajando nos blogs cheguei ao seu e me torno a 4a.leitora de seu relato.
Acabei de fazer o Caminho Português (estou no Porto) e sozinha. E posso te dizer: foi muito bom, muito interessante falar sozinha pelo Caminho e cantar muito!!
Vá em frente e buen camino!!
Solange (do Brasil)

ROBERTA TAVARES disse...

Adorei seus posts morro de vontade de fazer esse caminho, sei lá busco encontrar-me, mas não tenho nenhum preparo ou dinheiro suficiente. è muito bom ver suas imagens.